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Ilustração científica: O encontro da arte com a ciência


Em meio às explorações marítimas e expedições a terras desconhecidas, especialmente no século XIX, houve o estímulo ao desenvolvimento do desenho cientifico. E assim, começa a grande interseção entre a arte e a ciência. É indiscutível a importância de ilustrações científicas para a compreensão da ciência.

A ilustração cientifica é um tipo de linguagem figurativa que tem como objetivo ilustrar, complementar informações textuais e explicar, por meio de imagens, observações externas e internas de estruturas de organismos tanto macroscópicos como microscópicos (Figura 1). Além de descrições de experimentos científicos e as relações dos seres vivos com o ambiente.

Figura 1: Ilustração de diferentes partes (macro e microscópicas) de Utricularia foliosa L. (Lentibulariaceae) Desenhado pelo aluno de graduação da UFC - Felipe Martins (monografia).


Busca-se sempre transferir para a prancha uma imagem mais próxima possível da realidade. Há uma variedade de técnicas disponíveis, tais como: técnica em nanquim (ilustrações em preto em branco), pintura em aquarela ou em óleo, acrílica, air brush, lápis de cor (ilustrações coloridas) e uma das mais modernas que é a ilustração digital, que permite reprodução do objeto real em ilustrações, claras, ampliadas ou reduzidas e objetivas, e ao mesmo tempo, exuberantes (Figura 2).


Figura 2: Diferentes técnicas utilizadas na ilustração científica: a. Ilustração em lápis de cor de Sarracenia purperea x leucophylla (Sarraceniaceae), por Felipe Martins; b. Pintura em aquarela do fruto do Xixá (Sterculia L.), por Roberta da Rocha Miranda.


ILUSTRAÇÃO CIENTÍFICA AO REDOR DO MUNDO

“A história da ilustração cientifica confunde-se com a história da própria ciência e volta-se para o esclarecimento dos fatos científicos e do conhecimento adquirido e acumulado ao longo dos séculos.” (PEREIRA, 2007).

A maioria dos registros de ilustrações científicas datam dos últimos cinco séculos. Antes desse período, a técnica não era tida como necessária e/ou adequada quando o objetivo era descrever a natureza, em vista desse objetivo havia preferência pela utilização da linguagem verbal.

A ilustração científica passa a ser utilizada, em virtude dos textos elaborados por copistas não reproduzirem fielmente a realidade. Esta mudança coincide com o surgimento e desenvolvimento da imprensa, durante o renascimento, uma vez que ela permitiu e incentivou a reprodução de gravuras, estas passaram a ser inseridas em livros e reproduzidas em grandes quantidades, mas agora, se mantendo fiéis à realidade da natureza.

A ilustração científica, graças ao advento da imprensa, passou a ser utilizada cada vez mais nas descrições da natureza por todas as partes do mundo, iniciando pelo continente europeu e sendo disseminada nos demais continentes, com o advento das grandes navegações. E essa técnica ainda é bastante utilizada por cientistas - principalmente biólogos - em seus trabalhos com representantes da fauna e flora.

COMO A ILUSTRAÇÃO CIENTÍFICA CHEGOU AO BRASIL?

Em 1808, a família real chega ao Brasil, vinda de Portugal e consigo trouxe o desenvolvimento da imprensa, no nosso país. Anteriormente a essa data, havia certo proibicionismo quanto à instalação de oficinas de impressão no Brasil, sustentada pelo argumento de que a metrópole teria capacidade de suprir a pouca demanda da colônia.

No Rio de Janeiro, em 1810, com a instalação da Imprensa Régia, a gravura foi inserida no contexto da divulgação de informações. Com o fortalecimento e estabelecimento da imprensa a ilustração passou a conquistar espaço no país. E, com o avanço das ciências, a ilustração científica começou a acompanhar as publicações de inúmeras áreas da ciência como, por exemplo, biologia e medicina (Figura 3).



























Figura 3: Ilustração do hipotálamo feita a lápis de cor, por Roberta da Rocha Miranda.


Atualmente, a ilustração científica está bastante presente em trabalhos acadêmicos e tem se mostrado essencial para inúmeras áreas de estudo, dentre estas estão à taxonomia e a morfologia de seres vivos.

Entrevista Exclusiva


A ilustradora Dulce Nascimento, autora do livro Plantas Brasileiras – A ilustração Botânica de Dulce Nascimento (Figura 4) concedeu ao nosso blog uma entrevista exclusiva que você confere logo abaixo.


Sobre a entrevistada:


Dulce Nascimento é formada em Composição Paisagística pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é paisagista e pesquisadora convidada da Plataforma Paisagens Híbridas da UFRJ. Exerce a função de ilustrar espécies da nossa flora, tanto para uso de pesquisadores como para exposições com objetivo de divulgação das espécies para conservação. Seus trabalhos são reconhecidos não apenas no Brasil, mas também, no exterior, já que o governo brasileiro encomendou alguns de seus trabalhos para presentear às famílias reais, por isso, possui obras expostas no Palácio de Buckingham (Inglaterra), Palácio Real de Madri (Espanha) e Palácio Real de Oslo (Noruega).


Figura 4: A ilustradora Dulce Nascimento e o livro de sua autoria “Plantas Brasileiras a ilustração botânica de Dulce Nascimento.

Fonte: http://revistagloborural.globo.com/Revista/Common/0,,ERT315107-18095,00.html


1- Qual a importância da ilustração científica para ciência?


“A ilustração científica é um documento que registra visualmente uma espécie sendo um poderoso auxiliar do pesquisador. A principal função é a de registrar graficamente uma espécie com todos os detalhes e informações possíveis que a caracterizam. É um objeto de estudo do cientista que produz um texto descritivo em suas pesquisas, complementado por essas imagens.

Através de uma prancha científica é possível a identificação da espécie, a família e o gênero que pertence. Os elementos importantes podem figurar ampliados ou reduzidos em quantas vezes forem necessárias.


Figura 5: Ilustração de Tabebuia ochraceae (Cham.) Standl (Bignoniaceae), por Dulce Nascimento.


























Uma prancha desenhada cientificamente mostra a um só tempo a espécie e seus diferentes ângulos e elementos significativos, o que a fotografia, por mais bem definida que seja não é capaz de fazê-lo.

Não podemos afirmar que uma espécie se extinguiu na natureza, mas várias que ocorriam em certos locais, hoje quando procuradas não são mais encontradas, então entre outras informações, há a ilustração para consulta.

Daí a importância da honestidade no momento de desenhá-la e pintá-la, como fez entre outros, Rugendas, Frei Vellozo, Margaret Mee, Maria Werneck de Castro.”


2- Quais as habilidades para ser um bom ilustrador?


“Considero que o bom ilustrador tenha os seguintes requisitos fundamentais: ser metódico e detalhista, ter curiosidade científica, ter paciência e concentração, ser minucioso, observador e perseverante.

É a busca por detalhes quase imperceptíveis. É a descoberta de um universo que surge a partir de um olhar mais aguçado e interessado. É a busca da excelência do desenho das formas e da perfeição das cores que natureza inspira e que torna esta atividade tão encantadora além de útil, é claro.”


3- Quais os materiais e técnicas utilizadas para a realização de uma ilustração?


“As técnicas de representação mais tradicionais e também mais utilizadas na ilustração científica nos dias de hoje são nanquim (preto e branco) e aquarela (cores).

Para a técnica do nanquim também conhecido por bico-de-pena usa-se lápis, borracha, caneta de nanquim descartável ou não ou a pena tradicional. Tinta nanquim, papel vegetal ou opaline, lente de aumento e se possível o microscópio estereoscópico.

Para a técnica da aquarela, os materiais principais são: lápis, borracha, pincéis, tinta aquarela, papéis para aquarela, lente de aumento e se possível o microscópio estereoscópico."

Figura 6: Espécie de Bromélia - Aechmea setigera Mart. ex Schult. & Schult.f., por Dulce Nascimento.


As etapas do trabalho são: observar a espécie minunciosamente, planejar uma composição harmônica com todos os elementos e ângulos importantes indicados pelo pesquisador, fazer o desenho a lápis e depois com nanquim copia-los no papel adequado ou com pincel e tinta aquarela pintar as cores nos seus tons exatos em papel de aquarela.

4- Atualmente, tem se usado a computação gráfica para fazer ilustrações ao invés de ilustrações à mão. Qual a sua opinião sobre essa nova técnica?


“Há quem possa pensar que computadores e seus sofisticados programas de arte possam substituir o artista, mas é sim um instrumento tremendamente útil, pois há de se ter um artista a comandá-los.

A tecnologia contribui e muito com o trabalho do ilustrador científico, na medida em que ele pode contar com esses recursos como instrumentos de apoio em seu trabalho. A fotografia digital, computador, xerox, microscópio binocular acoplado à câmara clara, etc. são todos muito bem vindos, embora nada disso substitua o olhar do artista.

A tecnologia auxilia em termos de ganho de tempo, recursos para observação, etc, mas é importante ressaltar que o trabalho do ilustrador científico não é substituído pela tecnologia e sim serve-se dela para aprimorar seu próprio desenho, agilizar sua produção e armazenar os dados recolhidos. Todos esses, a partir da observação minuciosa, pesquisa de campo, coleta seletiva e adequada, pesquisa orientada por botânicos, biólogos e cientistas, com quem vier a trabalhar.”


5- Quais as recomendações para quem tem interesse na área?


“Aprender a técnica do desenho e as normas da ilustração científica, é o primeiro passo. Não é preciso ter formação em botânica, porém, é importante saber dialogar com os profissionais dessa área, para que seus trabalhos atendam a especificidade do que eles procuram.

Nessa relação particular com a natureza muita coisa muda quando enveredamos por essa profissão. Conviver tão intimamente com a Natureza é gratificante, os ensinamentos são constantes e intensos.

Há uma necessidade cada vez maior de que o desenho científico torne-se matéria obrigatória em universidades especialmente as de biologia.

O ilustrador tem um vasto campo profissional e pode atuar em diversas frentes. As pranchas resultantes desse trabalho podem ilustrar livros didáticos e técnicos, publicações científicas, artigos e teses.

“Servirá também futuramente como referência de um determinado ecossistema, por vezes, alterado pelo mau uso do ser humano.”


Quer saber mais informações e ver mais ilustrações??

Confira o blog da artista: http://dulcenascimento.com/blog.html


Referências

BLOG DULCE NASCIMENTO. Díponivel em: http://dulcenascimento.com/blog.html. Acesso em: 16 Nov. 2016.

CIÊNCIA EM PORTUGAL. Cinco séculos de ilustração científica. Disponível em: <http://ciencia.art.br/uni/ic_brasil/ >. Acesso em: 08 Dez. 2016

COSTA, F.I e MACIEL , M.W. Técnicas de Ilustração Cientifica e montagem de pranchas digitalizadas. XI Seminário do programa de Pós graduação em desenho, cultura e interatividade, 2015.

OLIVEIRA, R. L. e CONDURU, R.: ‘Nas frestas entre a ciência e a arte: uma série de ilustrações de barbeiros do Instituto Oswaldo Cruz. História, Ciências, Saúde — Manguinhos,vol. 11(2): 335-84, maio-ago. 2004.

PEREIRA, R. M. A., Cadernos de Ilustração Científica, ABCDesenho, PROEX UFMG- Pró Reitoria de extensão, Belo Horizonte, 2007.

UNIC. Ilustração Científica no Brasil. Disponível em: <http://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/e4.html >. Acesso em: 02 Dez. 2016.























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